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29 de Agosto de 2021, 11h:14 - A | A

Nacional / DOMÍNIO TERRORISTA

Talibã se financia com ópio, minério e cobrança de impostos

Grupo extremista chegou a movimentar mais de 1,6 bilhão de dólares ainda durante o período da ocupação dos EUA

R7



O Talibã foi retirado do poder do Afeganistão em 2001 pelos Estados Unidos e, 20 anos depois, o grupo terrorista dominou territórios afegãos até reassumir o poder do país no dia 15 de agosto.

Mesmo sem estar no controle do país asiático nas últimas duas décadas, o grupo fundado em 1994 no contexto do final da Guerra Fria continuou existindo e tendo uma forte influência na sociedade afegã, conseguindo arrecadar recursos financeiros para se manter ativo ao longo dos anos.

Uma lista dos 10 grupos terroristas com maior poder financeiro do mundo publicada em 2018 pela Revista Forbes revela que o Talibã, na época, arrecadava cerca de 800 milhões de dólares (aproximadamente R$ 4 bilhões na cotação atual) por ano. Esse valor fez o grupo afegão ficar em segundo no ranking, atrás apenas do Hezbollah, com 1,1 bilhão de dólares (R$ 5,7 bilhões) anuais.

Entre 1996 a 2001, o Talibã investiu fortemente nas plantações de papoula, planta que dá origem ao ópio e, assim, o grupo extremista se aprofundou na economia oriunda do tráfico dessa droga.

De acordo com Áureo Toledo, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em meados de 1998 e 1999, o tráfico de ópio rendeu cerca de 100 milhões de dólares (R$ 527 milhões na cotação atual) ao Afeganistão. Desse montante, o Talibã arrecadava 20 milhões de dólares (R$ 105 milhões) com taxas em cima das transações.

Em um contexto mais atual, um relatório encomendado pela Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e obtido pela Radio Free Europe / Radio Liberty revela que o grupo afegão movimentou 1,6 bilhão de dólares (R$ 8,4 bilhões) entre 2019 e 2020. Desse valor, mais de 416 milhões de dólares (aproximadamente R$ 2,1 bilhões) tiveram origem nas transações de ópio.

Escolta segura e cobrança de impostos

“Além da droga, o Talibã sempre lucrou bastante com as taxa cobradas dos caminhões que cruzam a fronteira com o Paquistão. Isso porque ele é um dos poucos grupos armados que conseguem garantir segurança na estrada para os comboios paquistaneses trafegarem sem riscos”, destaca o docente da UFU.

Os recursos financeiros arrecadados através da cobrança de impostos sobre transações realizadas tanto pela população, como pelas indústrias instaladas em regiões de controle do grupo também sempre foram fontes interessantes.

Dois exemplos de impostos cobrados pelo Talibã do povo afegão são o ushr, que recolhe 10% do valor arrecadado pela colheita dos fazendeiros, e o zakat, imposto de 2,5% sobre a renda.

Segundo Áureo, essas atividades rendem um lucro anual para o Talibã que gira em torno de 160 milhões de dólares, aproximadamente R$ 840 milhões na cotação atual.

Mineração

Outra fonte de renda para o grupo terrorista é a mineração, mais especificamente a extorsão sobre os mineradores que exercem atividades em regiões de controle do Talibã.

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“A mineração ainda é feita em pequena escala e na maioria das vezes de forma ilegal. Mesmo assim, essa atividade já chamou atenção de países como a China”, ressalta o professor que estuda o Talibã e o Afeganistão há mais de uma década.

O relatório da Otan revela que a extração de minério de ferro, mármore, cobre, ouro e zinco rende aproximadamente 400 milhões de dólares (R$ 2,1 bilhões) ao grupo.

Novas formas de financiamento

Depois de reassumir o poder do país asiático, espera-se que o Talibã busque novas formas de se manter financeiramente, uma vez que passará a ter mais responsabilidades com a população afegã.

Diante disso, Áureo destaca que uma das alternativas é a busca de reconhecimento diplomático internacional por parte de países que estão no seu entorno, como China e Rússia.

“A China já vinha se aproximando do Talibã desde 2015, porque os chineses têm interesse no investimento em uma estrada que liga Cabul a uma cidade no Paquistão, entre outras atividades”, destaca o especialista.

 

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