APARECIDO DO CARMO
DO CONEXÃO PODER
O analista político Onofre Ribeiro considera que a aproximação entre Jair Bolsonaro e o pré-candidato a prefeito de Diamantino, Francisco Mendes (União), pode sinalizar uma mudança nas relações entre o ex-presidente e seu irmão ilustre, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Oficialmente, o acordo prevê que o Partido Liberal, de Bolsonaro, possa indicar o candidato a vice na chapa que concorrerá na eleição deste ano. Mas, para Onofre, há algo a mais.
“O Gilmar Mendes é uma pessoa extremamente oportunista. Sempre foi oportunista. O que ele faz em Brasília não é o que ele faz aqui. Aqui ele posa de bom moço, ‘sou um mato-grossense dentro da mais alta Corte do país’. E lá na Corte ele é outra pessoa. Lá ele é muito mais algoz do que o bonzinho aqui de Diamantino”, explica o analista.
Conforme Onofre Ribeiro, a família de Gilmar e Francisco Mendes está desde sempre no poder em Diamantino. Uma verdadeira dinastia de prefeitos e vereadores que integram a família ou são ligados a eles.
“Vamos lembrar que, até 30 anos atrás, Diamantino era o município mais poderoso daquela região garimpeira de diamante. E o diamante dava um poder muito grande. Haja vista o caso de Poxoréu, que foi o ninho de grandes políticos em cima da riqueza do diamante. A mesma coisa aconteceu com Diamantino”, avança.
Para o analista, Gilmar se deu conta que não é possível ignorar a direita política brasileira como um movimento legítimo capitaneado pela figura do ex-presidente Bolsonaro.
Eu tenho a impressão que o Gilmar Mendes está reconhecendo que o país tem forças que precisam ser respeitadas. Uma na direita e uma na esquerda
“Eu tenho a impressão que o Gilmar Mendes está reconhecendo que o país tem forças que precisam ser respeitadas. Uma na direita e uma na esquerda. Então, eu penso que tudo é um jogo político. O Gilmar está fazendo um jogo duplo: ‘minha família primeiro e depois o país’. Cada um é um e não tem nada a ver um com o outro”, explica.
Nesse sentido, em caso de vitória de Francisco Mendes com o apoio de Bolsonaro, Onofre vê a possibilidade de o ministro, um dos mais poderosos do STF, ficar devendo um favor ao ex-presidente, que foi declarado inelegível.
“Então, o que o Gilmar está fazendo aqui é poder familiar. Prestígio e poder familiar. Lá em Brasília ele é outro homem. Lá ele é o algoz. Agora, lá no âmbito familiar, fica a dívida com o Bolsonaro. E lá na frente, como é que isso vai refletir num determinado julgamento ou numa posição?”, questiona.
"Se o irmão dele for eleito, ele fica devendo ao Bolsonaro", conclui.