APARECIDO CARMO
DO CONEXÃO PODER
Faltam três meses para o fim do mandato do prefeito Emanuel Pinheiro (MDB). O atual chefe do Executivo municipal deverá transmitir o cargo para o seu sucessor no dia 1º de janeiro de 2025, encerrando um ciclo conturbado que o próprio gestor apelidou de “pinheirismo”.
Emanuel Pinheiro foi eleito em 2016, com mais de 60% dos votos válidos, derrotando Wilson Santos, à época no PSDB, que já havia ocupado o cargo anteriormente.
Em 1º de janeiro do próximo ano, a Câmara de Cuiabá dará posse ao próximo prefeito da Capital, que será eleito neste mês pelos eleitores cuiabanos. Na época, o candidato contou como o apoio de Mauro Mendes (União), que viria a se tornar governador de Mato Grosso e seu desafeto pessoal.
Foi no primeiro mandato que Pinheiro enfrentou o mais forte de todos os percalços: em 2017, o Jornal Nacional, da TV Globo, exibiu vídeos obtidos pela Justiça em que deputados estaduais supostamente recebiam propina do então governador Silval Barbosa, na época filiado ao MDB.
O episódio ficou conhecido como “vídeo do paletó” e jamais foi dissassociado da figura de Pinheiro, mesmo com a recente decisão da Justiça Federal de que a gravação não pode ser usada como prova judicial por ter sido considerada “clandestina”.
Em 2020, Emanuel foi reeleito não por ser o favorito da população, mas porque o candidato que foi para o segundo turno, Abilio Brunini, na época filiado ao Podemos, tinha altíssima rejeição por conta do seu comportamento instável. Abílio chegou a vencer o primeiro turno, mas Emanuel virou no segundo e obteve mais quatro anos de administração.
Em 2021, Emanuel foi afastado do cargo pela primeira vez, por determinação do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT). Conforme o Ministério Público Estadual, no âmbito das investigações da Operação Capistrum, o prefeito foi apontado como o líder de um esquema de contratações irregulares na Secretaria Municipal de Saúde em que aliados de vereadores ocupavam cargos que deveriam pertencer à técnicos.
A primeira-dama, Márcia Pinheiro (PV), também foi um dos alvos e só conseguiu autorização para poder frequentar o prédio da Prefeitura em setembro deste ano.
O afastamento de Emanuel foi revisto pouco mais de um mês depois, mas os indícios de um esquema de corrupção na Saúde de Cuiabá continuaram a ser investigados. Em dezembro de 2022, o Tribunal de Justiça determinou uma intervenção do Governo do Estado na pasta. A decisão foi derrubada no Superior Tribunal de Justiça (STJ), por formalidades não cumpridas, mas o Órgão Especial do Tribunal de Justiça voltou a determinar a intervenção, que se prolongou por mais de 10 meses, sendo finalizada em 31 de dezembro de 2023.
Em 2024, o Ministério Público acusou Emanuel de ter furado a fila da vacina de covid-19 e ter deixado que outras autoridades fizessem o mesmo. Isso teria sido feito com o apoio de servidores estrategicamente posicionados, que conseguiam fraudar as informações dos sistemas informatizados da pasta.
Em março, Emanuel foi novamente afastado do cargo por conta de um rombo de R$ 1,2 bilhão nos cofres da Prefeitura. O valor já havia sido apontado pelo Tribunal de Contas de Mato Grosso (TCE-MT), que recomendou a reprovação das contas do prefeito.
Poucos dias depois, porém, a decisão foi revista e Emanuel devolvido ao cargo. O julgamento das contas se arrasta no TCE, onde o prefeito apresentou recursos que ainda estão sob análise.
Conforme o voto do relator, conselheiro Antônio Joaquim, durante a pandemia, sumiram dos cofres da Prefeitura cerca de R$ 235 milhões que haviam sido destinados pelo Governo Federal para o enfrentamento da crise de saúde. Apenas o conselheiro Valter Albano votou pela aprovação das contas do prefeito.
Apesar de ser apelidado de “prefeito-tatu” por opositores, em razão da grande quantidade de buracos nas vias da cidade, Emanuel Pinheiro mantém a autoestima em dia.
Em entrevista para a rádio Cultura FM no mês passado, o prefeito disse que é o melhor prefeito de Cuiabá desde Dante de Oliveira, nome respeitado nacionalmente por ter ajudado a articular o movimento das Diretas Já.
“Se eu tivesse entregue só o HMC, não fizesse mais nada na saúde, eu já seria celebrado, depois de Dante, como um dos maiores prefeitos da história de Cuiabá para a saúde pública”, disse.
“Quando acabar essa paixão política, quando Emanuel Pinheiro deixar a Prefeitura e olhar pelo retrovisor o que foi feito na cidade em todas as áreas, em todas as regiões da cidade, vão dizer ‘volta Emanuel, volta Emanuel. Você está fazendo falta’”, arrematou o prefeito.
Neste domingo (06), eleitores cuiabanos vão eleger o próximo prefeito da Capital. O candidato do partido de Emanuel, Kennedy Alencar (MDB) sequer conseguiu chegar aos 10% de intenções de voto nas últimas pesquisas.
O futuro de Emanuel, segundo se diz nos bastidores, poderia estar em um cargo em Brasília. O filho dele, Emanuelzinho Pinheiro (MDB), é um dos vice-líderes do governo Lula no Congresso e estaria articulando o posto para o pai.
"Todo mundo quer Emanuel Pinheiro, todo mundo gosta de Emanuel Pinheiro, todo mundo está vendo o trabalho. Houve essa movimentação, essa conversa lá, mas nada definitivo. Até porque minha cabeça, meu foco é Cuiabá, é a gestão. São os compromissos com a população cuiabana”, afirmou o prefeito à imprensa quando o assunto veio à tona, em maio.
É importante destacar que Emanuel articulou um palanque para Lula em Mato Grosso ao indicar a esposa, Márcia Pinheiro, para a disputa para o Governo do Estado contra o adversário Mauro Mendes, que venceu com facilidade ainda no primeiro turno.