APARECIDO DO CARMO
RAFAEL COSTA
O prefeito de Sinop, Roberto Dorner (Republicanos), não gostou de ser abordado pela imprensa na manhã desta quinta-feira (22), a respeito da saúde pública do município que administra. Ele chegou a usar termos de baixo calão, quando os repórteres insistiram que ele fizesse uma declaração sobre a situação da saúde da cidade.
Sinop ganhou holofotes na imprensa nacional por conta das mortes de duas crianças, de 2 e 3 anos, que morreram na UPA da cidade. Há suspeita de negligência médica em ambos os casos. Mesmo diante da pressão popular, Dorner se recusou a afastar a secretária de Saúde do município, Daniela Galhardo.
"Dá licença, porra! Não vou falar!", reagiu o prefeito, no momento em que foi questionado pelos jornalistas.
Acompanhado de seus assessores, Dorner percorre o corredor da Assembleia Legislativa, ri quando um jornalista diz que o prefeito está na "casa do povo" e reage dizendo “puta que o pariu”.
Os assessores do prefeito ainda chegam a orientá-lo a não dizer mais nada diante dos repórteres, que gravavam a reação dele com os aparelhos celulares, câmeras e gravadores.
Mais cedo, o prefeito de Sinop usou as redes sociais para comunicar o compromisso assumido pelo Governo do Estado de disponibilizar 10 leitos de UTI pediátrica no Hospital Regional de Sinop, em no máximo 30 dias.
Mortes na UPA
Manoella Tecchio, de 3 anos, morreu na quinta-feira (09) em uma Unidade de Pronto Atendimento de Sinop, após dar entrada com tosse seca. A Prefeitura Municipal determinou abertura de uma sindicância para apurar o caso e afastou a médica responsável pelo atendimento.
Segundo o pai da criança, ela estava com sintomas de gripe e, na segunda-feira (06), começou a apresentar tosse. Eles a levaram até a UPA e a médica pediu exame de sangue e urina, que não teria constatado nada. A profissional, então, teria medicado um remédio para tosse alérgica e mandou a criança para casa.
Porém, a menina não melhorou e, na terça-feira (07), voltaram a levá-la até a UPA. Manoella foi examinada novamente e uma radiografia constatou que o pulmão estava bastante comprometido. Foi solicitada a transferência para uma UTI Neonatal em cidades vizinhas, mas nenhum leito estava disponível.
Os profissionais da UPA tentaram realizar um procedimento para salvar a criança ali mesmo, mas a menina não resistiu. A causa da morte apontada pela unidade médica seria choque séptico e pneumonia.
Já no dia 18 de março, uma menina de 2 anos de idade morreu após dar entrada na UPA. O estado de saúde da criança era grave e ela aguardava uma vaga de UTI pediátrica para ser transferida, mas já era tarde. A causa da morte não foi informada.
Em nota, a Prefeitura de Sinop disse que as UPAs não são capacitadas para casos de alta complexidade e, por essa razão, foi acionada a central de regulação para que a criança fosse encaminhada para um hospital estadual.
Em entrevista na última segunda-feira (20), Roberto Dorner disse que “criança morre em todo lugar” e que “em Cuiabá morreram cinco crianças na Santa Casa e ninguém falou nada”, disse se referindo às mortes de crianças no Hospital Estadual Santa Casa, vítimas de uma bactéria super-resistente.
As declarações repercutirem negativamente e, depois disso, Dorner se isolou e recusa falar com a imprensa.