CAMILLA ZENI
DA REDAÇÃO
Presidente da Câmara Municipal de Cuiabá, o vereador Juca do Guaraná Filho (MDB) aproveitou o pequeno expediente da sessão desta terça-feira (9) para pedir desculpas à vereadora Michelly Alencar (DEM).
Na última sessão do dia 4 de novembro, Juca chamou a colega de histérica e a comparou com “uma menina que perdeu o doce”, durante uma discussão que resultou, inclusive, no encerramento precoce da sessão. Apesar de aceitar o pedido de desculpa, Michelly destacou que seguirá com uma representação criminal contra o parlamentar.
Juca direcionou seu pedido de desculpas a todas as mulheres cuiabanas e afirmou que refletiu, "durante todo o final de semana", sobre o machismo estrutural que faz parte da sociedade e que, muitas vezes, “passa despercebido".
O vereador afirmou que, apesar de não saber o que uma mulher sofre, ele também é vítima de outros tipos de preconceitos, inclusive no parlamento. No discurso, ele citou ser vítima de racismo e afirmou que vai se esforçar para ser melhor, diariamente.
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"Não tenho como sentir o que uma mulher sofre, mas consigo ter um fragmento desse sentimento porque, como negro, periférico, vindo de uma família pobre, sofri muito racismo, até mesmo dentro desse plenário. Entendo como é ser diminuído, destratado, inferiorizado apenas pela cor da pele”, disse.
“Entendo como é participar de uma discussão e escutar palavras racistas que me feriam, mas que eu não tinha forças ou argumentos para rebater e debater. Hoje eu entendo, mas também vejo que a força, o empoderamento que o movimento feminista, assim como o movimento LGBTQIA+ e o movimento negro estão trazendo não tem mais volta, e eu sou prova disso”, completou.
Juca ainda manifestou que já afirmou diversas vezes sobre a importância das mulheres no parlamento e defendeu que haja mais participação feminina na Câmara. Ele também ressaltou que aprende com elas diariamente.
A fala do presidente foi seguida pela vereadora Maria Avallone (PSBD), que disse que ficou descontente na sessão anterior, a qual chamou de “lastimável”. Ela ainda agradeceu o pedido de desculpas e disse esperar que Michelly também o aceitasse.
Então, Michelly pediu a palavra e destacou que já esperava uma retratação do presidente da Câmara, visto que foi atacada na sessão anterior nesse mesmo ambiente. Ele observou que, entretanto, o que Juca fez passou a ser crime em agosto deste ano, com a Lei 14.192/2021, que visa combater a violência política contra a mulher.
"Obviamente, o pedido de desculpas no pessoal foi aceito, porque eu também erro. Enfrentamento não tem nada a ver com orgulho e nosso papel de posicionamento precisa ser pautado com humildade, e tenho a humildade de falar que, como Michelly, eu aceito o pedido de desculpa, sim. Mas existe um outro posicionamento referente à lei, e isso é um enfrentamento", disse.
Michelly ressaltou que, em nome de todas as mulheres, vai dar seguimento às medidas tomadas contra o vereador, até para que a nova legislação seja conhecida e respeitada. Na semana passada, a parlamentar registrou um boletim de ocorrência contra Juca na Delegacia da Mulher. Ela deverá representá-lo criminalmente.
