CAMILLA ZENI
DA REDAÇÃO
Presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), a desembargadora Maria Helena Gargaglione Póvoas, afirmou não acreditar que o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), permanecerá “em trégua” com o Poder Judiciário por muito tempo. A magistrada ainda defendeu que haja uma reação para cada ataque do gestor.
“Eu acho que daqui a pouco pode surgir um novo embate e eu não sou do time que acha que o Judiciário tem que abaixar a cabeça. Já foi o tempo disso, que o Judiciário tinha que engolir uma série de coisas quieto, calado. Não é assim, não”, defendeu Maria Helena, em entrevista à rádio Capital FM, nessa quarta-feira (3).
“Digo sempre que temos obrigação de estabelecer uma ponte com a sociedade, e essa ponte só será feita se você conversar com a sociedade. Na medida em que você é atacado e fica calado, você consente aquilo. Então, a cada vez que ele desferir um ataque, eu sou favorável de que o Judiciário deve uma explicação à sociedade”, completou.
A desembargadora citou um dos maiores entraves de Bolsonaro com o Judiciário, em relação a segurança da urna eletrônica, e comentou: “Eu fico, às vezes, como cidadã, estarrecida de ver determinadas posições do mandatário maior da nação, sinceramente”.
Maria Helena ressaltou que Bolsonaro foi eleito deputado federal, permanecendo no Congresso por 26 anos, à base da urna eletrônica, assim como também foi eleito presidente da República. Por isso, a discussão em torno da segurança da urna, que é pacífica no Judiciário, parece tardia.
“Como que ele vem discutir hoje a legitimidade da urna eletrônica? Por que que ele não veio discutir três anos atrás, quando a legitimidade de urna o consagrou presidente da República? A urna, não há a menor possibilidade de fraude, ela não é conectada na internet”, defendeu.
A polêmica em torno das urnas eletrônicas se acirrou nos últimos meses, chegando a provocar reações preocupantes por parte de apoiadores de Bolsonaro quando o Congresso passou a discutir a PEC do Voto Impresso.
Por conta da forte manifestação seguindo a linha de Bolsonaro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) passou a responder às alegações que colocavam a urna eletrônica em xeque. O presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso, chegou a protagonizar discussões com o presidente da República.
Entretanto, em meados de setembro, no âmbito das manifestações do Dia da Independência, Bolsonaro anunciou uma “trégua” na discussão com o Judiciário, que se estendia ao Supremo Tribunal Federal, e recuou no discurso contrário às urnas. Desde então, não houve novo impasse sobre o assunto.