22 de Abril de 2022, 07h:44 - A | A

Poderes / OPERAÇÃO DESCOBRIMENTO

Reuniões em posto, viagens juntos e briga: entenda relação entre ex-secretário e lobista

Nilton Borgato, ex-secretário de Estado, é apontado como um dos membros do primeiro escalão da organização criminosa que praticava tráfico internacional

EUZIANY TEODORO
DO REPÓRTERMT



O ex-secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação (Seciteci), Nilton Borgato, mantinha relação de "amor e ódio" com a lobista Rowles Magalhães Pereira da Silva, apontado como um dos líderes de uma organização criminosa que praticava tráfico internacional de drogas para a Europa.

 Informações colhidas pela Polícia Federal durante investigação da Operação Descobrimento apontam Borgato como membro do "primeiro escalão" da organização criminosa, e alguém responsável pela aquisição da droga para o tráfico. Por isso, a relação do ex-secretário com o lobista era próxima e turbulenta. 

Segundo a Polícia Federal, Borgato e o lobista faziam viagens juntos e marcavam reuniões em um posto de combustível em Cuiabá. 

Em uma das conversas dos envolvidos, a PF identificou que Rowles e Nilton haviam combinado de viajarem juntos, em junho de 2020. Conforme a transcrição da conversa, interceptada pela Polícia Federal, o lobista chega a dizer que a esposa poderia levá-los ao hangar de uma empresa de táxi aéreo fretado. 

 Durante as investigações, a PF constatou que o ex-secretário, de fato, viajou para São Paulo seis dias depois da conversa com o lobista, permanecendo na capital paulista por três dias. A viagem foi relatada por Rowles à Nelma Kodama, doleira identificada como uma das líderes do esquema. 

Nilton Borgato também se encontrava com Rowles em um posto de combustível de Cuiabá, localizado ao lado do Hotel Paiaguás, na Avenida do CPA. Um dos encontros ocorreu no dia 14 de janeiro de 2021, duas semanas antes de uma aeronave que buscaria drogas chegar ao Brasil. 

 Conforme a PF, as conversas trocadas entre Borgado e Rowles naquele dia indicavam que o lobista estava preocupado com a própria segurança. A transcrição contida na decisão judicial que acolheu o pedido de prisão preventiva do ex-secretário, porém, à qual o RepórterMT teve acesso, não deixa claro o motivo da insegurança. 

Entretanto, as conversas revelaram que o lobista e o ex-secretário tiveram um atrito próximo da data em que a aeronave chegaria ao Brasil. Consta do relatório que teria havido um golpe no pagamento do voo para transportar as drogas. No entanto, mais uma vez, as transcrições não deixam claro o que ocorreu.

A PF registrou que, por conta da briga, Rowles instruiu outro membro do primeiro escalão da organização criminosa, Ricardo Agostinho, a não atender as ligações de Borgato. Foram identificadas duas chamadas perdidas no número de Ricardo, durante a noite, com recado do ex-secretário para que o comparsa entre em contato com ele no dia seguinte. 

Apesar de alguns desentendimentos, a Polícia Federal conseguiu identificar que Borgato participou de pelo menos seis remessas de cocaína para a Europa, entre junho de 2020 e fevereiro de 2021. Por isso, a Justiça Federal da Bahia determinou a prisão preventiva do ex-secretário. 

Operação Descobrimento

 Conforme a Polícia Federal, as investigações tiveram início em fevereiro de 2021, quando um jato executivo Dassault Falcon 900, pertencente a uma empresa portuguesa de táxi aéreo, pousou no aeroporto internacional de Salvador/BA para abastecimento.

Após ser inspecionado, foram encontrados cerca de 595 kg de cocaína escondidos na fuselagem da aeronave. A partir dessa apreensão, a PF conseguiu identificar a estrutura da organização criminosa, composta por fornecedores de cocaína, mecânicos de aviação e auxiliares (responsáveis pela abertura da fuselagem da aeronave para acondicionar o entorpecente), transportadores (responsáveis pelo voo) e doleiros (responsáveis pela movimentação financeira do grupo). 

Ao todo foram cumpridos 43 mandados de busca e apreensão e sete mandados de prisão preventiva em Mato Grosso, Bahia, São Paulo, Rondônia e Pernambuco.

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